O contexto da carta de São Paulo, escrita a Timóteo, mostra-nos que a Sagrada Escritura, Palavra de Deus versada em letras, tem como objectivo a perfeição do homem. Objectivo esse que só pode ser alcançado pela apropriação do Espírito de Deus, que permite que essas mesmas letras sejam vivas e eficazes, concretizando-as no coração de cada um.
Desde a sua génese, a fé cristã afastou-se de uma compreensão da vida cristã como algo que permitiria a alguém ser apenas “menos mau”. “Ser bonzinho”, como diz a gíria popular, não exige, na verdade, a conversão do coração à Palavra de Deus.
Na verdade, esse é um passo diferente, mais profundo, que requer a mudança integral de toda a vida, a fim de se adequar a tudo o que está contido na Revelação. Não é possível, exactamente por isso, haver uma apropriação parcial da Sagrada Escritura, na medida em que Ela precisa ser acolhida na sua totalidade.
E esse é um processo que se há-de distender no tempo, porque haverá sempre espaços no nosso coração a serem transformados, justamente por não se coadunarem ainda com a perfeição a que o próprio Deus nos chama e para a qual fomos criados.
A grande questão é tão simplesmente esta: queremos ser bonzinhos, ou queremos ser salvos?
Padre Miguel Rodrigues