“[…] é importante voltar sempre a meditar juntos sobre o significado da própria palavra caridade. A caridade não é uma prestação estéril, nem sequer um simples óbolo a destinar para silenciar a nossa consciência. Aquilo que nunca devemos esquecer é que a caridade tem a sua origem e a sua essência no próprio Deus (cf. Jo 4, 8); a caridade é o abraço de Deus, nosso Pai, a cada homem, de maneira particular aos últimos e a quantos sofrem, os quais ocupam um lugar preferencial no seu Coração. Se considerássemos a caridade como uma prestação, a Igreja tornar-se-ia uma agência humanitária, e o serviço da caridade um seu “departamento logístico”. Mas a Igreja não é nada disso, é algo diferente e muito maior: é, em Cristo, o sinal e o instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação, nossa casa comum.
A segunda palavra é desenvolvimento integral. No serviço da caridade está em jogo a visão do homem, que não se pode reduzir a um único aspeto, mas abrange todo o ser humano como filho de Deus, criado à sua imagem. Os pobres são antes de tudo pessoas, e nas suas faces esconde-se o rosto do próprio Cristo. Eles são a sua carne, sinais do seu corpo crucificado, e nós temos o dever de ir ao seu encontro até nas periferias mais extremas e nos subterrâneos da história, com a delicadeza e a ternura da Mãe Igreja. Devemos apostar na promoção de todo o homem e de todos os homens, a fim de que sejam autores e protagonistas do próprio progresso (cf. São Paulo VI, Carta Encíclica Populorum progressio, 34). Por conseguinte, o serviço da caridade deve escolher a lógica do desenvolvimento integral como antídoto contra a cultura do descarte e da indiferença. E dirigindo-me a vós, que sois a Cáritas, desejo reiterar que «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de atenção espiritual» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 200). Vós bem o sabeis: a imensa maioria dos pobres «possui uma especial abertura à fé, tem necessidade de Deus, e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e de amadurecimento na fé» (ibidem). Portanto, como nos ensina também o exemplo dos Santos e das Santas da caridade, «a opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se principalmente numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária» (ibidem).

A terceira palavra é comunhão, que é central na Igreja; define a sua essência. A comunhão eclesial nasce do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo que, mediante o anúncio da Igreja, alcança os homens e cria comunhão com Ele mesmo, com o Pai e com o Espírito Santo (cf. 1 Jo 1, 3). É a comunhão em Cristo e na Igreja que anima, acompanha e sustém o serviço da caridade, tanto nas próprias comunidades como nas situações de emergência no mundo inteiro. Desta forma, a diaconia da caridade torna-se instrumento visível de comunhão na Igreja.
Eis por que gostaria de reiterar que a caridade não é uma ideia ou um sentimento piedoso, mas é o encontro experiencial com Cristo; é o desejo de viver com o Coração de Deus que não nos pede que tenhamos pelos pobres um genérico amor, afeto, solidariedade, etc., mas que neles encontremos Ele mesmo (cf. Mt 25, 31-46), com o estilo de pobreza.
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DA CARITAS INTERNATIONALIS, 27 de maio de 2019
A Pastoral Sócio-caritativa reúne os grupos paroquiais mais directamente ligados ao serviço da caridade, procurando que o apoio prestado pela comunidade possa acontecer de forma organizada e articulada, a fim de responder melhor às necessidades de tantos que experimentam variadas carências nas suas vidas.
A complexidade do enquandramento social no qual nos movemos, exige que a caridade cristã – que todos estamos chamados a pôr em prática nas nossas vidas – seja feita com a seriedade necessária, procurando o melhor dos saberes humanos, para responder eficazmente aos problemas apresentados.
Há ainda um desejo profundo de que a reflexão levada a cabo por esta equipa pastoral ajude a sensibilizar todos os homens e mulheres de boa vontade a colaborarem activamente com projectos e iniciativas, pondo a render os seus dons, desenvolvendo uma verdadeira cultura do cuidado para com todos, com a atenção necessária para identificar as necessidades e a disponibilidade de coração para agir pronta e sabiamente, mesmo que isso signifique reencaminhar para os serviços de assistência que melhor poderão acompanhar determinada situação.